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domingo, 17 de julho de 2011

Na vida, nada se aprende ouvindo falar

Capítulo V

Uma coisa é bem divertida em ser jovem: a ladainha que os mais velhos insistem em jogar nos nossos ouvidos sobre erros que não devem ser cometidos. Quer saber, esses discursos de nada servem.

Quando ainda era bem pequena, tão pequenininha a ponto de não possuir nenhuma memória além das histórias que meus pais me contaram, resolvi dar um passeio pela casa e andando pela cozinha, usando móveis e paredes como apoio, acabei inadvertidamente colocando minhas sensíveis mãozinhas no vidro do forno. Minha mãe resolvera assar biscoitos de polvilho, delícia mineira, justo nesse dia e eu acabei com ambas as mãos queimadas. Uma pena para uma criança? Com certeza. Mas será que eu teria aprendido que era melhor ficar bem longe dali se minha mãe houvesse me dito isso? Pouco provável.

Tudo isso pode parecer apenas uma história boba e sem sentido, mas eu acredito realmente que nós, como verdadeiros animais que somos, só aprendemos na base da experimentação, da busca pelos nossos desejos, mesmo que para isso muitos erros nos aguardem no caminho. E cá entre nós... eles são essenciais.

No dia a dia sempre nos deparamos com escolhas que podem representar passos importantíssimos e ditar o norte de nossas vidas. A escolha que tomei em cursar Jornalismo com certeza faz parte deles.

Há alguns anos, quando ainda cursava o ensino médio, minha mãe resolveu me apresentar para um colega de trabalho dela. Ele tinha cerca de 20 anos, uns três a mais que eu. Não demorou muito e combinamos de nos encontrar no shopping para assistir a um filme: A era do gelo.

Até aquele momento nunca havia me apaixonado verdadeiramente por ninguém. Lógico que já havia passado pelos amorzinhos platônicos do jardim de infância e tido a experiência de amar profundamente um grande amigo durante os primeiros anos do ensino fundamental, quando ainda morava em Minas Gerais e a rua era meu parquinho de diversão. Nossa, só de pensar já me bate uma saudade louca.

Mas ele foi diferente. O diálogo era fácil, o olhar me dava um frio na barriga e o beijo... ah, foi apaixonante. Simplesmente não consegui ignorar tudo aquilo. Foi demais para mim. Em apenas um dia de convivência eu já estava loucamente apaixonada.

Infelizmente para mim, logo percebi que o romance da minha cabeça não existia. Em resposta a minha louca paixão recebi uma negativa de gelar até o mais duro dos corações. Ele havia terminado um namoro há pouco tempo e não queria se apaixonar. Este foram os dizeres do próprio foco de amorzinho da minha adolescência.

Juro que, apesar de parecer infantil da minha parte – e que se dane se foi imaturo, eu tinha só 16 anos – eu passei uns dois dias trancada no quarto me desmanchando em lágrimas.

Tudo bem que eu me acabar de chorar não é grande coisa. Em geral, grande parte das coisas me fazem chorar, dês de cenas de filmes infantis até um lindo livro de amorzinho. Só não sou do tipo que chora porque ganhou uma flor. Chorar de felicidade pra mim é o cúmulo... mas deixemos isso para lá.

Nesse dias de choro convulso minhas irmãs ficaram preocupadíssimas – por sinal ainda não disse que tenho três irmãs: a Josi – o nome dela é Josepine, mas ela detesta, então não espalha tá? – que é uma grande amiga, oito anos mais velha que eu, mas moleca-e-sapeca-como-ela-não-há; a Ana Paula – que eu chamo só de Ana mesmo por que ninguém merece ter que chamar alguém por dois nomes – é cinco anos mais velha que eu e meu ídolo, porque pra fazer Biologia – eita curso chato – e ainda prolongar os estudos com um Mestrado, tem que ser muito forte e corajosa; e a Isa, Bela, Bebel... a Isabela, minha imazinha caçula, cinco anos mais nova que eu, que é responsável por guardar meus maiores segredos.

Mas como eu ia dizendo, nesse dia minhas irmãs ficaram extremamente preocupadas comigo, principalmente quando eu disse que aquela situação havia me ensinado uma coisa. Homens não prestam e paixões são inúteis.

Tudo bem, vocês também devem estar condenando minha atitude, mas naquele momento eu estava profundamente ferida, e não dá pra ser racional numa hora dessas.

Por cerca de três anos fiquei em um verdadeiro vai e vem nesse relacionamento indefinido: de ódio ao amor, de amiga à ficante. Até hoje não sei como classificar esse momento da minha vida. Simplesmente não faço idéia do que éramos, muito menos do que somos hoje em dia. Todas as semanas ainda trocamos ao menos uma mensagem no facebook ou algumas palavras no MSN, mas enfim desencanei desse romance sem propósito.

A Josi deve estar orgulhosa de mim agora. Não consegui ouvir os conselhos dela sobre o amor antes de vivê-lo, mas agora entendo cada uma de suas palavras.

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